sexta-feira, fevereiro 09, 2007

CRAQUE DO CRUZEIRO TEVE IDADE ADULTERADA

(Folha de São Paulo)-Há duas semanas, o Brasil conheceu de vez Anderson, talentoso lateral-esquerdo que guiou o Cruzeiro ao inédito título da Copa São Paulo júnior. Poucos sabiam até agora, porém, que ele já foi Emerson, um "gato" três anos mais novo.Autor do gol cruzeirense na final com o São Paulo, Anderson jogou ao menos uma disputa em 2005 como "gato" (jogador que adultera documentos para jogar torneios de base).Ele atuou na Copa Brasil Infantil, em Votorantim, com o nome de Emerson Luis Domingos. A disputa era sub-15, e Anderson, que nasceu em 1988, tinha documento que mostrava 1991 como ano de seu nascimento --jogou o torneio, vencido pelo Cruzeiro, com 16 anos.Seria "só" mais um caso de "gato" no Brasil, mas a história, além de ter como pivô uma grande promessa do país, tem uma novidade: o clube sabia da condição irregular do atleta e tratou por conta própria de regularizar sua documentação.Primeiro, Ricardo Drubscki, diretor de futebol de base do Cruzeiro, negou à Folha conhecer a fraude de Anderson: "Conheço o Anderson, jogador, 88 [1988], não conheço o Anderson 91, o que você está falando. Se houve essa adulteração, é coisa que ele tem que te falar. Não estou sabendo."Minutos depois, o dirigente, que foi técnico de Anderson, admitiu a antiga fraude do garoto e o trabalho do Cruzeiro em ajeitar seus documentos."Aconteceu. A coisa foi reorganizada, e conseguimos recolocá-lo naquilo que realmente ele é, um garoto 88. Apesar de diretor de futebol de base, não mexi com esse trâmite, com essa documentação. O Cruzeiro não fez isso achando que ele ia ser o Anderson da Copa São Paulo. Fez até como tentativa de corrigir", disse Drubscki.O caso cruzeirense não é isolado. A Portuguesa também jogou a Copa São Paulo júnior com um "gato arrependido". Anderson, volante do time, é amigo do lateral Anderson, jogou como "gato" pelo Cruzeiro na Copa Brasil sub-15 e regularizou depois documentos para defender o time do Canindé."Eu e o Anderson do Cruzeiro somos amigos aqui da Vila Missionária [bairro paulistano]. Um cara que chamam de Bahia adulterou nossos documentos. No Cruzeiro, desconfiaram que eu era "gato". Fui para o Juventude e fizeram teste do osso em mim. Descobriram minha idade. Aí eu mesmo regularizei meus documentos. Cheguei à Portuguesa regular."O atual Anderson da Portuguesa usava o nome de Paulo Anderson (segundo ele, idéia do Bahia, que mexia com o time do bairro) e era "gato" dois anos mais jovem. Luis Lucas, diretor de futebol de base da Lusa, disse que não sabia de sua fraude até ontem, quando falou com a Folha, mas conta que o clube já regularizou um ""gato" por conta própria."O Fágner, atacante, também tinha problema. Fomos atrás, verificamos papéis, o jogador é bom e nos interessamos. Conseguimos documento com a ajuda da federação paulista. Federamos o menino com um ano a mais. Regularizar a situação de toda essa molecada é interessante", falou Lucas.Drubscki diz que o Cruzeiro seguirá regularizando os "gatos" craques. "Se chegar um que nos interessa tecnicamente, regularizamos. Fazemos bem para a sociedade e para o garoto. A maioria com documento adulterado não tem competência para atuar na idade acima. Aí o Cruzeiro não pode fazer nada além de recusar."Anderson chamou tanto a atenção na Copinha que havia no Pacaembu na final faixa para Dunga, técnico da seleção, prestar atenção em seu futebol."É um talento, menino de família boa. Caiu de gaiato nisso. Mas acabou. O Cruzeiro foi atrás, olhou maternidade, cartório. Ainda bem que foi feito bem antes. Não deu um problema maior", afirmou Drubscki.