sábado, março 31, 2007

A REALIDADE DO AMÉRICA

Com uma dívida trabalhista de R$ 30 milhões, uma receita fixa bruta entre R$ 35 mil e R$ 40 mil e um gasto mensal de R$ 450 mil a R$ 500 mil, a realidade do América é apavorante. A frieza e a exatidão dos números mostram quadro deficitário sem precedentes. Os argumentos, ainda que justificáveis, parecem evasivos diante de um cenário que exige ações urgentes e de perspectiva tenebrosa.
Mesmo com esse quadro, o presidente Antônio Baltazar, em entrevista concedida ontem, no Centro de Treinamento Lanna Drumond, assegura que o América é viável. E a saída apontada pelo dirigente é o condomínio de ações: “É um projeto que vai sanear o clube. O problema é que houve atraso na implementação e outras decisões também tiveram de ser adiadas. Uma reação em cadeia. E isso aconteceu por motivo cartesiano, matemático. Temos de tentar buscar o equilíbrio”.
Além desse projeto, o dirigente cita uma receita do próprio patrimônio do América: “Ele está sendo saneado e nos dará retorno”. A venda de jogadores é outra saída apontada. Ele disse que o clube tem 77 jogadores, sendo 28 emprestados, e, com eles, espera obter algum dinheiro para o falido caixa, já que, da receita mensal, não se pode esperar praticamente nada. São R$ 15 mil do clube de lazer e R$ 5 mil do conselho deliberativo, cujos conselheiros pagam anuidade entre R$ 30 e R$ 100. Dos 480 conselheiros, contribuem, com assiduidade, cerca de 200.
Os salários estão atrasados há um mês. O de março vence na próxima semana e a apreensão de todos é enorme. No atual grupo, o maior salário é de R$ 6 mil. A maioria recebe de R$ 2 mil a R$ 3 mil. Quando assumiu o América, há dois anos, Antônio Baltazar encontrou sete meses de salários atrasados, números dados pelo diretor de futebol Alexandre Mattos. Há ainda as ações na Justiça. Das 118, o presidente contou que houve acordo em 40 delas, 32 estão ajuizadas e 28 em disputa jurídica.
Com tantos problemas, o painel exibido pelo América nas entrevistas e as marcas estampadas no uniforme com sete patrocinadores parecem ser um alento. Mas, na prática, o clube recebe bem menos do que precisa. Ainda que tenham que comemorar, tanto que os chamam de parceiros, já que três contribuem com dinheiro, e quatro são permuta.
PARCEIROS
É desalentador. Mas a esperança e a confiança do atual comando são inabaláveis quanto ao futuro: “Não tenho crítica a antecessor. É fato que a dívida do América saiu do controle em 2001, mas vamos recuperar o clube. Não temos fonte de recursos e precisamos produzir receita. Não aceitamos virada de mesa, buscaremos opções possíveis e com dignidade. Existe a chance de jogar a Série C do Campeonato Brasileiro, vamos lutar até o fim, e disputaremos a Taça Minas Gerais, que nos proporcionará pequenos patrocínios e parcerias”. A disputa da Série C custaria aos cofres do clube R$ 4,3 milhões: “Temos de fazer recurso e sacrifício, porque não podemos parar”.
No futebol, razão de ser do clube, Antônio Baltazar também se mostra otimista: “Reformulação paralela ao trabalho extracampo. Vamos mexer no profissional e na base. Mudanças profundas, que começarão depois do encerramento do Campeonato Mineiro”. Haverá dispensas. A base, que tem um investimento mensal de R$ 120 mil, será privilegiada e o técnico Procópio Cardoso, com contrato até o fim do Estadual, pode ou não permanecer. O time treina hoje, às 8h30, no Lanna Drumond, se preparando para a partida contra o Democrata, de Sete Lagoas, dia 8, no Independência.
A esperança do América de ter mais três pontos a disputar no Estadual e, assim, ainda ter chances de fugir do rebaixamento, teve um novo capítulo ontem: foi marcado para terça-feira o julgamento do TJD do pedido de impugnação do clássico com o Cruzeiro, no qual o América alega que houve inversão do mando de campo.