quarta-feira, fevereiro 28, 2007

ROMBO NO GALO PODERIA SER EVITADO

O rombo que será provocado em conseqüência de decisões da Justiça Trabalhista nas já combalidas finanças do Atlético, caso o Tribunal Regional do Trabalho não acate o pedido do clube de destinar o máximo de 10% do faturamento para a quitação de dívidas no setor, poderia ter sido evitado. Em muitas ações contra o Galo em fase de execução, jogadores e ex-funcionários não pedem nada além do que estava escrito no contrato e não foi cumprido, obviamente acrescido de multa e atualização monetária.
Em vários casos, os atletas procuraram os dirigentes antes de buscar a via jurídica. Alguns fizeram acordo, não cumprido pelo clube. Outros ouviram que não havia condição de receber a dívida. Para todos, o caminho foi recorrer à Justiça, o que só fez crescer o montante a ser pago pelo Atlético.
Um dos jogadores que se encaixam nessa situação é o goleiro Kléber, que vestiu a camisa alvinegra entre 1998 e 2001 e em cuja ação não cabem mais recursos. Entre salários, férias e direitos de imagem não pagos, teria a receber cerca de R$ 340 mil. Com todos os acréscimos determinados pela Justiça, a dívida quase triplicou, passando de R$ 1 milhão.
“Nunca quis nada mais que o Atlético me devia, e o valor que o juiz determinou é apenas a correção de valores que se arrastam há muito tempo, alguns desde 1998”, afirma o goleiro, que ano passado defendeu o Coritiba, na Série B do Campeonato Brasileiro. Ele diz ter procurado dirigentes e falado de sua intenção de acordo, mas não teve alternativa senão recorrer aos tribunais. Para receber o que lhe é devido, seu advogado, Carlos Drumond, já penhorou a Cidade do Galo e bloqueou a conta bancária alvinegra, sem sucesso até o momento.
Dos casos ainda em tramitação, um dos mais emblemáticos é o do volante Emerson, que esteve no Galo entre 2004 e 2005. O atleta, cujos salários no primeiro ano de contrato eram de R$ 31 mil, incluindo direitos de imagem, deveria passar a ganhar R$ 36 mil por mês nos 12 meses seguintes, o que nunca ocorreu. Além disso, Carlos Drumond alegou, na ação contra o clube, que ele ficou sete meses sem receber direitos de imagem, somando R$ 147 mil, além de 13º (56 mil), entre outros. O total seria de R$ 366 mil, aos quais o advogado incluiu a cláusula penal prevista no artigo 28 da Lei 9.615, no caso de quebra unilateral de contrato, de até 100 vezes a remuneração anual.
Conforme contrato presente no processo, os dirigentes atleticanos da época fixaram no máximo o valor da multa rescisória, que, assim, chegou a R$ 40 milhões. “Pedi que o valor não fosse estabelecido em menos de 20% desse total, ou seja, cerca de R$ 8 milhões. Como não obtivemos sucesso, recorremos ao Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília, e estamos aguardando o resultado”, diz o advogado, para quem as pendências não existiriam se os clubes pagassem em dia.
EMERGÊNCIA
Ciente do problema, o presidente atleticano, Ziza Valadares, que assumiu o cargo em janeiro, tem procurado cumprir tudo o que assina. Mas, como muitas ações são anteriores a sua chegada ao clube, ele se vê em situação dramática, por não dispor de recursos para quitar os débitos trabalhistas. “Queremos honrar nossos compromissos, mas precisamos dessa ajuda da Justiça, que já foi concedida ao América.”
Ziza reconhece que erros foram cometidos no passado, mas acha que o mais importante no momento é encontrar uma forma de manter o clube funcionando. “É preciso que os credores saibam que 10% de tudo o que entrar no clube, como recursos obtidos com a venda de jogadores, será destinado a pagar esses débitos.”