quinta-feira, março 29, 2007

A MAIS TRISTE PÁSCOA DO COELHO

Na mais recente crônica de uma morte anunciada, o América chora o rebaixamento para a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro com uma rodada de antecedência. A tragédia foi confirmada ontem à noite, com a derrota, por 2 a 0, para o Rio Branco, no Parque do Azulão, em Andradas, com gols de Valdiney e Régis Pitbull. No último capítulo, tristeza, lágrimas e choro incontido marcaram a queda do Coelho para o Módulo II. Desrespeito aos quase 95 anos de história de títulos e glórias, que o clube completa em 30 de abril. Já o time de Andradas subiu para o quarto lugar e mantém o sonho da classificação às semifinais do Estadual.
A tradição foi manchada pela incompetência dos dirigentes. Não há argumentos que aliviem a administração desastrosa, que levou o América ao fundo do poço. Um time bisonho, descaracterizado e sem identificação com o clube. Em 10 jogos, a equipe conseguiu a ‘proeza’ de perder oito, empatar um e vencer apenas um. Tem a pior defesa do Estadual, com 18 gols sofridos, e terminará sua participação na lanterna da competição.
O americano fiel, que aprendeu a amar o clube, tem, agora, o coração partido e os sentimentos de revolta, incredulidade e dor arraigados na alma. A decepção é ainda maior por ter acompanhado um passo errado seguido de outro, tamanhas as trapalhadas de administrações passadas, que se acumularam e culminaram com a queda, ontem. Demora absurda em contratar treinador no início da temporada –Procópio Cardoso, chamado para tirar o Coelho do CTI, foi o terceiro da temporada. Problemas de indisciplina, jogadores afastados, falta de comando. Um barco à deriva e o resultado previsto.
No Parque do Azulão, a 498km de BH e longe de sua torcida, ontem foi dia de mais uma jornada que resumiria o fim inevitável: incompetência evidente e futebol sofrível. Um gol sofrido no primeiro tempo, em falha grotesca de Caçapa e bola tocando em Aldo e vencendo o goleiro Juninho, aos 17min. E outro no segundo, em jogada individual de Régis Pitbull.
Se, na etapa inicial, o América mostrou toda a falta de recursos, na final, o empenho foi até superior. Mas, quando não se tem qualidade, o esforço e a vontade não salvam a pátria.
Com um erro atrás do outro, decisões equivocadas, ainda que pensadas por pessoas sérias e bem-intencionadas, o Coelho confirmou o vexame anunciado. Com problemas estruturais e financeiro, o América terá de repensar não somente o futebol, mas toda a organização e gestão do clube.
ORGULHO
O técnico Procópio Cardoso, que aceitou o desafio de tentar salvar um doente quase terminal, desabafou depois da partida e foi sábio ao apontar o caminho que o América precisa seguir, se quiser dar a volta por cima e, novamente, mostrar força digna de sua história: “Reflexão longa, honesta e com calma. Conheço esse clube há um bom tempo e é preciso acabar com o ciúme e as picuinhas que existem internamente. A instituição não pode sofrer por isso. O América precisa estar nas mãos dos americanos de verdade e não de pseudo-americanos”.
O América vive o pior momento desde sua fundação. Sem vaga garantida na Série C do Campeonato Brasileiro e na Segunda Divisão do Mineiro, nunca o futebol do clube esteve tão em baixa. A vergonha de cada americano, mesmo daqueles que exerceram com dignidade o papel de sua responsabilidade, é a mais dolorida. Mas que a decepção, das mais trágicas, sirva de aprendizado. É na queda que se reúnem forças para levantar. É das cinzas que se renasce. E é esse o caminho a ser trilhado por aqueles que aprenderam a ter orgulho de ter no corpo e no coração as cores verde, branco e preto.
ANÁLISE
Tudo já foi analisado sobre a tragédia que abala o América Futebol Clube. A dura realidade é que o Coelho, de tantas tradições, amarga o mais doloroso rebaixamento de sua história de quase 95 anos. Em 2008, disputará o Módulo II do Campeonato Mineiro, nome que alivia, mas não anula, a situação de time da Segunda Divisão estadual. Sem perspectivas para os próximos meses, o clube tem de deixar de lado o apego ao passado e se unir em séria reflexão: 1 - Qual o seu objetivo no futebol?; 2 - Em que momento perdeu a noção de perspectiva?; 3 - Como aproveitar melhor o trabalho das divisões de base, que já reveloaram vários grandes jogadores?; 4 - Como sair da inércia que o abateu nos últimos anos? Muito trabalho terá de ser feito rumo à recuperação. Já, sem hesitações. Qualquer conquista – e o retorno à Primeira Divisão é uma – começa cedo, no planejamento e na preparação.